Rogério Alves da Silva

fev 242 min

Villa dos Sonhos

Vim chegando pelo caminho de cima; o sol já se despedira há mais de hora e a noite já se avizinhava. A vista foi se ajustando à queda da luz e, quando vi, ela já tinha se feito do lado oposto de onde o sol mergulhou, lá onde só restava um fraco clarão.

Após a curva da cruz, avistei a Vila lá no fundo do vale. A luz fraca do interior das casinhas brancas, fugindo pelas frestas e janelas, demarcava as ruelas e deixava ver o rasgo do ribeirão, que dividia o casario em dois lados, ligados pelo pontilhão, único ponto iluminado por lampiões.

Descendo o caminho sem pressa, observava aqui e ali os vultos que ainda transitavam pelas ruas; nas curvas do morro, meu cavalo demonstrando grande cansaço, quase estancava, exigindo da minha exaustão uma ação positiva para prosseguir morro abaixo.

Ao entrar na Vila, busquei a rua que margeava o pequeno rio e a cortava de ponta a ponta. Conforme fui evoluindo, pude sentir que o silêncio frio só era quebrado pelas ferraduras do animal nas Lajes de pedra. As luzes que de longe fugiam fagueiras, iluminando a rua, foram se apagando ante a minha marcha arrastada naquela rua agora deserta.

Já no meio da rua, assisti a vida se apagar naquele lugar, nenhuma luz se mostrava, portas e janelas fechadas, silêncio de morte, soltei as rédeas e novamente a noite se encheu do trôpego pisar do animal nas pedras. 

Ao final da rua, ao me deparar com a capela, só as três velas acesas ao pé do cruzeiro confirmavam que houvera vida ali antes da minha chegada. Parei por um instante, mas logo segui à direita, avistando a ponte iluminada que me levaria forçosamente para fora da Vila.

Antes da primeira curva, já um pouco longe da Vila, voltei-me e pude ver que a vida ressurgira como por encanto. De todas as casas, a luz amarelada novamente fugia para as ruas. Aguçando os ouvidos, pude  ouvir uma música ao longe.

Depois da curva, foi só o breu. A noite desabou sem que eu percebesse. Entretido com o medo da Vila, eu sentia agora a dor da solidão, o vazio da escuridão. Vi que o estrangeiro por estas bandas não encontra pouso.

Mergulhei no caminho escuro sem saber o que à frente me esperava, fechei os olhos embalado pelo galear calmo da sela, sonhando com uma Vila linda toda iluminada, portas e janelas escancaradas, gente pronta a me acolher e ofertar uma boa cama com um travesseiro macio e um lençol branquinho. 

O caminho é longo como uma noite de solidão que impede a chegada de um novo dia de esperanças.

Rogério Alves 

    740
    4