E quando tudo isso passar? Aos 56 a caminho dos 57 anos
Tenho me questionado a todo momento nesta fartura inabitual de tempo:
Cara, e quando isso tudo terminar?
Quanto tempo isso vai durar?
E aí?
Vai recomeçar de onde parou?
Vai retomar tudo como antes?
Será só uma parada?
Férias forçadas?
Já há alguns anos venho no embalo, protelando meus planos, soterrando meus sonhos e adequando como dá o tempo sempre escasso, querendo encontrar sobras e migalhas de tempo para fazer o que realmente me faz feliz.
Nestes tempos onde os dias cresceram, onde passou a sobrar tempo, pude buscar num baú grande e empoeirado: velhos sonhos transformados em projetos amarelados pela falta de tempo, desejos quase mortos pelos compromissos assumidos, gigantes amarrados por exército de minúsculas rotinas, letras soltas, palavras dispersas, frases sem nexo, livros em branco, canetas tinteiro, mata borrão.
E quando isso tudo terminar?
O que farei?
Retomo tudo de onde parei e sigo em frente tentando recuperar o tempo perdido?
E o tempo que achei? E o baú?
Agora que retirei tudo lá de dentro e fui espalhando no tapete da sala, redescobri valores esquecidos, brinquedos da época de criança, mapas de tesouros, nariz de palhaço, revoluções sufocadas, roxas, quase mortas.
Quando tudo isso terminar terei de resolver, se só lamento ou se dou graças e sigo em frente agora que tenho tempo, que vi renascer o sonhador.
Foram até aqui sete dias de quarentena; as más línguas digitam e publicam que poderemos chegar a trinta, sessenta, noventa dias de reclusão...
Se nestes poucos dias foi possível fazer e pensar tanta coisa, fico temeroso do que pode acontecer se tiver tempo de desempilhar todos os baús, vai faltar sala, vai faltar tapete para espalhar tudo que ficou pelo caminho, tudo que a vida juntou e fui jogando de forma impiedosa nos baús da falta de tempo e das escolhas.
Recomeçar retomando tudo de onde parei ou passar a mão no tempo e aproveitar para brincar com tudo que retirei do baú?
Aos cinquenta e seis quase cinquenta e sete anos, para responder todas estas perguntas vou precisar de tempo, de coragem.
Por enquanto só tenho certeza que não será como antes, como será? Ainda não sei!
Mas quando tudo isso passar eu terei crescido, se a reclusão durar muito, vai dar tempo de responder a todas as minhas perguntas e ainda vai sobrar tempo para fazer escolhas.
Tenho sorrido pouco, gargalhar então, acho que nem sei, tenho que treinar!
Ainda tenho tempo para escolher como será, só abri um baú, quem sabe encontro nos outros os meus sonhos de criança, e aí, quando a vida quiser voltar de onde parou eu já tenha seguido em frente levando só o nariz de palhaço...
Rogério Alves
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