A Caixa do Medo
- Rogério Alves da Silva

- 4 de dez.
- 2 min de leitura

Lá no fundo, onde a luz chega tímida; a penumbra exige da visão um tempo para que se habitue e veja que há uma prateleira, e é lá, no corredor do tempo, onde as muitas vidas guardaram suas aventuras, peripécias, amores, dores… em caixas, todas arrumadinhas, uma ao lado da outra, esperando a hora certa de serem abertas.
O bom observador que preza por detalhes e pela estética, verá que o tamanho não foi fator ordenador; observará que, ao lado das maiores têm umas pequeninas; notará pela aparência, que foram depositadas ali em épocas distintas; concluirá por fim, que elas foram e continuam sendo ordenadas pela sutileza das nuances das cores e que não foram rotuladas.
Ali parado diante de tantas lembranças, eu sei o conteúdo de cada uma delas, desde as de épocas mais remotas, até às mais recentes, pois, fui eu mesmo, pessoalmente, que as guardei, uma a uma, e as colori de acordo com meus sentimentos naquele momento vivido, algo totalmente pessoal.
Agora, a esta altura da vida, o que me chama a atenção nessa imensa coleção são as de tons mais fortes, terrosos, cinzas, vermelhas, roxas e uma danadinha, bem pequena, que está se esfacelando pela ação do tempo, ela é preta e muito antiga, guardei nela a origem dos meus medos, provindos dos instintos mais primitivos lá do início da caminhada.
Hoje, os meus medos são outros, depois de passado o susto e o impacto, o que resta, na maioria das vezes, é um risinho sem graça diante do ridículo de ter se amedrontado por tão pouco. O que se espera diante dessa caixinha é muita coragem para enfrentar tudo que está por vir e a compreensão de que foi o medo que nos trouxe até aqui como espécie. Os mais corajosos, que saíram primeiro da caverna, foram devorados.
Salve o frio na barriga e as pernas trêmulas diante da curva mal feita na correria da vida. O medo nos mantém vivos.
Rogério Alves

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