Almirantes Negros
Foi no iníciozinho do século XX, novembro de 1910 que aconteceu a "Revolta da Chibata" dentro da Marinha do Brasil, liderada pelo marinheiro João Cândido Felisberto, que recebeu o título popular de "O Almirante Negro" por lutar pelo fim dos castigos físicos (chibatadas) como punição aos marinheiros negros.
João Cândido foi perseguido, preso, expulso da Marinha, injustiçado e tido como louco. Mas, como um lutador resiliente, só veio a morrer em 1969, mantendo a patente popular de o Almirante Negro.
No início dos anos 70, João Bosco e Aldir Blanc lançam a linda *música "Mestre-sala dos Mares" o Almirante Negro, homenageando o nosso desconhecido herói.
Você conhece a sua história?
Mas as coisas mudam e foram necessários mais de 110 anos para que no dia 04 de Abril de 2023, Maria Cecília Barbosa alcançasse o justíssimo posto de contra-almirante, primeira mulher negra oficial-general da Marinha do Brasil, a terceira mulher a alcançar este posto na história da instituição.
Mesmo que tardio, o acontecido deveria ter tido uma repercussão maior que a recebida, pois ele é fruto de uma luta árdua, que retrata o quanto nossa sociedade é resistente às mudanças, nossa Almirante Negra abre um caminho que esteve fechado pelo racismo e pela misoginia.
Esta é uma luta que começa a apresentar ganhos mais ágeis e que deve conquistar-nos como seus promotores e aguerridos defensores, pois ainda são exceções. É verdade que alguns e algumas que se destacam. A luta, através desses raros exemplos, tem por finalidade derrubar as barreiras seculares ainda renitentes na nossa sociedade.
A história de João e Maria, embora separada por mais de um século, conta a luta do homem negro e da mulher negra que venceram, cada um do seu modo, a injusta estrutura secular. A farda branca fica mais bonita em contraste com a pele negra dos nossos almirantes.
As coisas estão mudando!
Parabéns João e Maria, vocês são exemplo de luta e residência.
Rogério Alves
*Letra original da música "Almirante Negro" (O mestre-sala dos mares) de autoria de João Bosco e Aldir Blanc e comentário.