Amélia
- Rogério Alves da Silva

- 16 de ago.
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Era uma casinha branca, muito pequena e humilde, numa ruazinha de terra; o telhado era muito baixo e não tinha forro, o que me deixava ver as telhas escuras, quando íamos nos deitar, era possível conversar com quem estava nos outros cômodos e a conversa seguia até que o sono acalentador nos embalava até o dia seguinte.
Quando eu acordava, eu ia direto para a varanda dos fundos onde o telhado era ainda mais baixinho, lá, um fogão a lenha já estava a todo vapor, o café já estava no bule, e uma broa de fubá inigualável, esperava por todos que buscavam os bancos compridos da varanda para se esquentar, fugindo do frio de julho.
Aquele cheirinho bom e os estalos vindo da queima da lenha, impregnam minhas lembranças daquela senhorinha magrinha, baixinha, com seus vestidos brancos estampado com pequenas flores e seu cabelo cinza claro, seus olhos azuis eram profundos, eu nunca a vi desarrumada, ela sempre estava pronta, impecável e cheirosa.
Vim passar várias férias na casinha da minha avó Amélia, até que viemos de vez, de mala e cuia morar na mesma cidade, pertinho dela, e até a mudança chegar e tudo se ajeitar, moramos na casinha branca da minha avó Amélia e pude desfrutar por meses dessa convivência gostosa. No final da tarde, era quase certo ter lá no fogão a lenha uma sopa, a que ficou na lembrança foi a de fubá com couve e ovos.
Quando eu já estava com 18 anos, fui morar na mesma rua, em frente a casinha branca da minha avó Amélia e, nessa época, ela se tornou meu porto seguro, era só atravessar a rua e tudo estava resolvido, ela sempre estava lá e o fogão sempre com uma daquelas delícias de vó, ela foi muito importante prá mim.
Passados mais alguns anos, a idade fez com que ela fosse morar com minha mãe e aí, ficou tudo mais fácil, eu já casado, nunca deixei de estar com elas e foram muitos papos gostosos, sempre recheados de gostosuras e ensinamentos. Me lembro que ela sempre me pedia para passar na farmácia e comprar a tintura para seus cabelos (Color Charm cinza azulado).
A casinha branca com seu fogão a lenha é a lembrança gostosa e saudosa que guardo da minha avó Amélia. Minha mãe, hoje com 92 anos, ainda faz uma broa de fubá com banana e diz que é a receita da Amélia. Todo sábado torço para ela fazer, mas nem sempre minha torcida funciona.
Somos a soma dessas pessoas que marcaram nossa vida.
Rogério Alves

"Felizes são aqueles que tiveram uma avó com quem conviver. Eu sou um deles!"