Doido varrido…
O mestre Ariano Suassuna conta que, lá em Taperoá, na Paraíba - sua cidade Natal - tinha, como em toda cidade pequena, o doido oficial da cidade, seu nome era Manuel Bento.
Em outubro, num dia de calor miserável do Sertão do Cariri, lá pelo meio-dia, Manuel Bento estava parado, de orelha colada num muro comprido que tem por lá, escutando atento por horas…

As pessoas passavam e olhavam estranhamente aquela cena…
Até que o primeiro parou e também encostou a orelha junto ao muro, buscando escutar alguma coisa. Daí a pouco, vários o imitavam, até que um deles, depois de um certo tempo disse:
- Manuel Bento, não estou escutando nada!!
Então, Manuel Bento, tranquilo, afastando a orelha do muro, respondeu:
- Tá assim desde cedo! Tudo quieto...
Quando ouvi pela primeira vez o Professor dizer que ele tinha uma atração e admiração pelos doidos, eu me senti um tanto aliviado, pois eu sempre tive um forte interesse e curiosidade por eles; como diz o Professor, talvez por identificação.

Minha admiração se dá por eles verem as coisas sob uma ótica disruptiva*, totalmente inabitual dos ditos "normais", suas inteligências são surpreendentes e impactantes.
Diante das nossas indagações regidas por uma lógica comum, as respostas deles são sempre, no mínimo, criativas e desconcertantes diante da forma convencional de analisar, concluir e reagir sobre as coisas, situações e problemas dos pretensos normais.
Manuel Bento, ao buscar algo especial no muro, talvez queira nos dizer que…
o que ele encontrara até então nas ruas foi o óbvio, o comum,
que isso não lhe bastava,
que isso o impeliu a buscar algo além do convencional,
ansiando por algo extraordinário.
Ou será que foi uma provocação?
