Dor e Solitude
- Rogério Alves da Silva

- 20 de out.
- 2 min de leitura

De vez em quando, nessa louca aventura que é viver, nascem uns dias que trazem com eles umas dores estranhas, que não se sabe de onde vem e que doem sem dó, doendo sem endereço certo. Como se não bastasse a dor, os tais dias se afeiçoam com facilidade ao tal portador da dor e reivindicam cidadania.
Astuta que é, a dor não chega chegando. De início, é um incômodo, uma dorzinha que faz visita ligeira, que cede com uma massagem ou compressa... sem chamar a atenção de sua potencial vítima, que vai levando a vida com uma careta aqui, uma mancadinha ali, achando que ela vai passar, é aí que ela se aproveita e monta casa com o pobre.
Ele, sentindo que ela veio para ficar, comete a imprudência de reclamar e como se gosta de reclamar, a cada um que o faz recebe a contraofensiva: “Você não sabe o que é dor, estou ruim há dias.”, “A minha dor não passa, já fiz de tudo.”, “Isso não tem jeito, depois dos cinquenta, é assim mesmo.”... E ele percebe que não o ouvem.
Depois de mais uns dias de dor renitente, ele recorre aos de casa, reclama com a mãe e a consulta é completa vindo com um comprimido, o copo com água e a observação: “Tive isso outro dia, tomei esse remédio e foi ótimo, toma que vai passar”. Sem melhoras, ele reclama com a velha Tia, aquela meio bruxa, que tem um chazinho para tudo, e saí da consulta com uma sacola de mato e muita dor de cabeça.
Tem ainda os amigos mais radicais que vão direto para os anti-inflamatórios, antibióticos e até cachaça com limão e mel que garantem ser um santo remédio e um preventivo para todas as dores, doenças, gripe e até câncer.
No entanto, comigo, para interromper a sucessão do nascer desses loucos dias e das dores que chegam se achando e pensando que vão se dar bem, eu tenho um veneno natural que é tiro e queda. Quando eu fico “doente”, eu fico tão enjoado e mal humorado que ninguém aguenta, nem as dores, nem as doenças, elas vão embora correndo junto com os familiares e os amigos.
Porque vamos falar, coisa boa é ficar sozinho e sossegado quando uma dor dói, né não?
Rogério Alves

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