Greves, Ações e Reações Graves!
Atualizado: 25 de ago. de 2018

Algumas experiências são marcantes nas nossas vidas. Percebendo mais profundamente, vejo que todas são instrutivas e libertadoras quando apreendidas.
Vivenciá-las é uma oportunidade ímpar, que só depende de nós.
O dia D passou sem ser percebido
Viajei durante todo dia a trabalho (22 de maio, 2018), cheguei à noitinha em casa e,cansado, fui logo dormir. No dia seguinte, iniciei meus afazeres e percebi uma certa movimentação estranha nas ruas: ao voltar para casa, na hora do almoço, as filas de carros já dobravam os quarteirões em busca de combustível... Já era tarde para qualquer ação mais efetiva caso eu houvesse de tomá-la. Não a fiz!

Uma corrida sem destino
O que aconteceu foi um ato social, um ato de alguém que correu para a fila e de forma involuntária causou uma corrida aos postos de combustível, pessoas assustadas pela possibilidade do desabastecimento trataram de se prevenir e encheram os tanques de seus carros.
Em questão de horas, todos os postos estavam com seus estoques terminados e o desabastecimento se transformou em realidade, construído com nossas próprias atitudes e muito pela força da mídia social (Whatsapp, Facebook e outras).

O depoimento de um gerente de posto
O curioso foi o depoimento de um gerente de um posto próximo de minha casa que me confidenciou que, 80% das compras de combustível, durante as horas cruciais, foram feitas a crédito, o que me fez pensar que a grande maioria desses abastecimentos não aconteceriam sem a comoção, sem a reação social aos boatos ou a adesão por simples salve-se quem puder.

Pessoas que normalmente não abasteceriam e utilizam muito pouco o carro protagonizaram esta corrida alucinada e seus carros, com seus tanques cheios, foram guardados em garagens bem trancadas como um troféu.
“Meu tanque está cheio!”
Nos dias subsequentes ouvi várias vezes:
“- Consegui encher meu tanque! E você? conseguiu abastecer o seu?”
É muito interessante observar como agimos por compulsão, como nossos instintos irrompem diante das situações mais comezinhas, somos tomados por reações anti fraternas e antissociais e agimos sob o efeito manada, fazemos o que os outros fazem, motivados pelo EU.

“Primeiro eu, depois os meus…”
É comum não pensarmos nas outras pessoas quando nos vemos em um possível risco ou ameaça. Já escutei pessoas relatando que já fizeram estoque de arroz, leite, carne e outros produtos básicos.
É importante que reflitamos sobre as consequências de nossas ações na vida do outro.
Por exemplo:
Como o outro fará ao não ter o que comprar (não por desabastecimento mas por compras aturdidas e desmedidas por excessiva precaução)?

O que aprendi em 2011, na catástrofe que ocorreu em Nova Friburgo, RJ
Em janeiro de 2011, Nova Friburgo foi quase que totalmente aniquilada por uma tempestade que gerou uma série de desabamentos e soterramentos, resultando na morte de mais de 800 pessoas.
Nessa ocasião, passei por um experiência muito especial que me rendeu valiosos ensinamentos.
No dia seguinte à catástrofe, eu não me lembro bem o porquê, tinha nas mãos um valor razoável em dinheiro, porém, diante da falta de energia, de água, e de tudo do mais básico, eu não tinha o que comprar!
Me lembro bem que, depois de uns quatro dias de muito trabalho pelas ruas da cidade, no final da tarde, fiquei sabendo que um supermercado no bairro tinha voltado a fabricar pães, assim, me dirigi para a fila.
Depois de umas duas horas de espera, quando finalmente chegou a minha vez, pedi 30 pães franceses, ao que o balconista me respondeu que ele apenas poderia vender 10 pães por pessoa…
Naquele momento, enquanto comia o melhor pão francês da minha vida, vi que em certas circunstâncias o dinheiro não adianta muito e que somos todos iguais, ali, a natureza nos colocou todos no mesmo patamar.
Foi um aprendizado importante na minha vida e nunca vou esquecer a lição.
Fazer aos outros o que gostaríamos que nos fizessem...
Este preceito é um modelo que a vida insistentemente tenta nos ensinar.
Em greve comigo mesmo
