O homem no espelho
Vida boa é a vida simples?
Meu tempo vai passando e eu estou ficando menos exigente com a vida, com o viver.
Talvez, exigente não seja a palavra certa ...
Depois de ter inúmeros e os mais inusitados carros, hoje, tenho um Corolla preto, carro tipicamente de tiozão, comum, de fácil manutenção, baixo consumo, preço baixo e benefício alto.
Roupas: resumem-se a calça jeans, camisa polo, camiseta de malha, tudo em cores sóbrias; sempre de sapatênis, tênis e sandália, meias esportivas;
Churrasco: passou a ser trabalhoso e a acabar rápido;
Pescar: virou perda de tempo e passou a dar uma preguiça danada com os preparativos e com a viagem, sempre longa;
Música: só existem duas: boa e ruins e não tem data de validade;
Festa: só as pequenas e curtas;
Baile: nunca mais, nem existem mais, graças a Deus;
Viagem: curtas e bem escolhidas, de preferência para Minas Gerais;
Avião: é um saco, aeroportos são uma perda de tempo, nunca fui ao banheiro num avião em voos domésticos;
ônibus: um tédio. Só se não tiver outro jeito;
Reunião: no máximo de uma hora, sempre com pauta e só quando obrigado;
Preconceitos: são inaceitáveis, sinal de burrice, além de pegar mal;
Esforço: diário em direção à ética, à responsabilidade social, à justiça e à busca da boa convivência;
Comidas: simples, sem frescuras e não muito saudáveis, nada de gergelim, chia ou linhaça, isso entristece a vida. As saladas só por obrigação e desencargo de consciência;
Refrigerante: é H2o limoneto com suco de limão, álcool parei e tenho que me justificar até hoje ter parado;
Café: sempre muito quente, às vezes puro, com leite é muito bom, com queijo cortado bem fininho, em fatacos, são ótimas companhias para ler, ouvir e escrever;
Dormir: com camiseta velha e short, pijama só nas viagens, fora isso, nem no inverno;
Hotéis: por melhor que sejam, são sempre impessoais, nem se comparam com minha casa, sem falar da minha cama;
Desafios: sempre, metas são degraus a curto prazo para um objetivo maior, prazer da superação só em relação aos meus próprios números, competição travadas sempre comigo mesmo;
Trabalhar: é realização e prazer insubstituível, é sempre quebrar o galho de alguém, terminar todos os dias feliz por ter trabalho;
Dinheiro: é para fazer acontecer e vale só o quanto dá de prazer a você e aos outros, comprar só quando é imprescindível;
Dormir: só o necessário, exceto domingo à tarde que é prazer e tradição;
Tempo: tenho todo o tempo do mundo, com o seu passar, aprendi a multiplicá-lo e, hoje, ele não me falta para nada que quero fazer;
Amigos: poucos, só o Roberto Carlos pode se dar ao luxo de ter um milhão deles.
Coisas boas da vida, como ter lido Gabriel Garcia Marques e Saramago, me fizeram gostar de um bom livro, de boa música, filme de aventura, viajar com a Jô, pensar e ter tempo para fazer nada, dormir por vinte minutos na minha cadeira barulhenta após o almoço; prazeres e direitos que tenho e que me permito.
É legal fazer um lista sobre você, mais legal ainda é, com o tempo, você entender que essa visão é sua e não condiz, na grande maioria das vezes, com a visão do outro em relação a você.
A vida de hoje não tem nada a ver com a de outros tempos, ela é sempre inédita nas suas propostas e vai sedimentando as coisas boas vividas que permanecem e passam a ser vistas no nosso espelho.
Vida boa é aprender a viver o agora e fazer desse momento algo agradável e que você tenta prolongar e ou repetir.
Depois de uma certa idade você deixa de ser "O homem espelho" e passa a ser você no espelho.

Você já se olhou?
Tem se olhado?
Experimente, faz bem e não engorda!
Rogério Alves
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