Lá vamos nós…
Não tem recomeço, não tem retomada, tem sido sim uma sucessão de dias que sempre se ligam por herança ao dia anterior.
Ao final de cada dia ou quando esgotam-se minhas forças, restam ainda afazeres e compromissos para o dia seguinte, assim, não há tempo disponível para um balanço ou projetos, menos ainda para uma avaliação do que passou, envolvidos sempre num turbilhão, estamos constantemente comprometidos.
O relato acima tem a ver com você?
O que se constata, neste mundo, é que a vida tem tomado uma dinâmica tão grande que o ócio se transformou em "pecado" social.
A expressão: "Estou me matando de trabalhar" é visto como algo normal e desejável, um "suicídio" sem recriminação, aceito e admirado. O problema é que tem gente realmente morrendo de tanto trabalhar.
Ficar na cama preguiçosamente até mais tarde, sem hora para levantar, se transformou em algo que não se tem coragem de admitir em público e pode ser causa de constrangimento.
Temos hora determinada para acordar, mesmo nos finais de semana; nosso celular traz uma disciplinada programação do dia a dia: hora de caminhar, de ir à academia, de tomar sol, almoçar, de trabalhar, de namorar, de…
Aos poucos, fomos nos impondo uma agenda tão complexa e extensa que acaba nos sufocando, nos formatando numa suposta aceitação social, onde "todos" declaramos com leve prazer que estamos sobrecarregados.
Se dizer estressado é quase que um salvo-conduto para ser aceito e iniciar uma conversa amistosa.
Não é de bom tom dizer que dormiu bem, que está tudo tranquilo.
Falar que as coisas estão ótimas, então, é correr o risco de ser tido como alienado, doido mesmo!
Tirar um mês de férias e ficar realmente à toa é, definitivamente, afrontar as novas convenções sociais; é correr risco de ficar mal visto na empresa e ser alvo de julgamentos e comentários negativos.
Tudo isso poderia ser uma grande brincadeira, uma ficção, se não fosse verdade no meu caso: me lembro de sempre tirar férias com F maiúsculo (ótimas) e que, ao longo dos últimos anos, elas só foram minguando...
Os domingos já foram de acordar e ficar jiboiando na cama assistindo Globo Rural, corridas de F-1… faz tanto tempo que que não vejo que nem sei mais o nome dos pilotos…
Dos finais das tardes de verão na piscina, só ficaram as lembranças…
Não dá mais tempo, sempre chego já à noitinha...
Me lembro, saudoso, de comprar Lps e depois os CDs dos meus artistas preferidos e sentar por horas para ouvi-los… Isso, hoje, só é possível durante viagens de trabalho, que também se tornaram raras em função do trabalho em casa.
A leitura, algo sempre muito prazeroso, ainda vem resistindo às mudanças e exigências da vida atual, não sei até quando.
Sinto saudades da calma, do ócio tranquilo que não deixava remorsos.
Tenho buscado simplificar a minha vida e reaprender sobre os prazeres de bons livros, boa música, coisas simples...
A vida se complicou ou, no meu caso, deixei me levar, perdi o limite de até onde, de quanto, parei de falar não, me deixei absorver por trabalho, redes sociais, trabalho, compromissos, trabalho, ação social, trabalho, substituir o outro, trabalho, palestras, trabalho, estudos, trabalho, substituições, trabalho, compromissos, traaabaaalhoooo…
Fique tranquilo, isso tudo é comigo, um caso isolado e totalmente atípico, nada que te deva preocupar...
Me lembro de músicas, livros, filmes, Globo Rural… lavar o carro, visitar meu irmão…
Pescar?
Não posso ficar fora uma semana.
Viagens para fora do Brasil?
Está louco? Como vou ficar fora por 10 ou 15 dias?
Pequenas viagens de sexta-feira depois do almoço até o domingo no final da tarde, também já se tornaram raras.
Meu caso, é um caso excepcional?
Você acha que tem jeito?
Você conhece outros malucos?
Você conhece alguém que foi se deixando levar e os compromissos foram se sobrepondo?
O bom destas análises é que abrem portas para revisões e para uma reprogramação da vida.
Rogério Alves.
Veja mais sobre o tema em: https://www.acreditaremsi.com/palestra-elastan
Não sei se pela idade (estou a poucos meses de completar setenta anos), mesmo ainda trabalhando, me dei ao luxo de não me deixar levar por obrigações tão severas (por exemplo, desligo o celular quando me “dá na telha” e fim de papo). É, talvez seja a idade ou porque não quero me submeter à correria que o mundo tenta nos impor. Talvez seja isto!