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Pilar de Goiás



O alarido do povo pelas ruas é enorme, vendedores apregoam seus produtos no largo entre a igreja e o cemitério em uma disputa sem ética nem pudor, pedestres destemidos se apertam entre liteiras e carroças, o que ouço é uma turba e imagino o cenário.


Para mim é fácil identificar onde estou e reconhecer tudo o que acontece na cidade nestes dias de festa, vivi aqui toda a minha existência. Um pouco inseguro, luto em meio a torrente humana buscando alcançar a Matriz do Pilar antes do início da missa que já se anunciou pela segunda vez por seus sinos.


Com a mão firme no ombro direito de Antônio, sigo em frente apesar de alguns encontrões acompanhados de um pedido de perdão; finalmente sinto sob meus pés a calçada de pedras lisas da praça em frente a Matriz.



Alguns passos depois entramos na nave, o cheiro das velas e do incenso queimando no turíbulo me trazem tranquilidade e segurança. A final galguei os dois degraus até as cadeiras da Irmandade, sob o comando de Antônio sinto por trás dos meus joelhos o acento da minha cadeira, e me deixei desabar, não foi fácil chegar, e ainda a tempo.


Em silêncio, Antônio se afastou, as taboas do piso rangeram sob seu peso, ele é um negro enorme. No decorrer da missa a música invade a nave me emocionado, é sempre muito especial estar aqui, sinto as lágrimas correrem pelo meu rosto e meu coração serenar.



Hoje não me lembro de todos os passos da missa, é estranho, me sinto um tanto confuso percebendo a saída desordenada das pessoas e do falatório inabitual ao ambiente. Aos poucos a calma foi tomando conta da igreja, mas não me atinge, sinto-me apreensivo.


Onde estará Antônio?


Permaneci ali, sentado no meu lugar, esperando, esperei, esperei e nada, ele não voltou para me buscar. As missas se sucediam dia após dia, as pessoas entravam e saiam e eu ali, esperando. Até que uma pessoa se aproximou, tocou o meu braço convidando-me a acompanhá-la e eu fui, mesmo sem conhecê-la.


Chegando a um lugar estranho mas tranquilo onde fui bem recebido, me concederam a palavra e eu me expliquei: sou cego, me deixaram na Matriz como sempre e não voltaram para me buscar, muito tempo se passou até o meu resgate hoje por esta senhora amiga.



Com carinho, fui informado que algo grave tinha me acontecido, me disseram com tranquilidade que eu havia morrido, e estranho, eu não me assustei, fui ainda informado que a cegueira era do corpo físico, que como Espírito eu poderia ver; me convidaram a orar e todos nos juntamos em prece, me emocionei, ao fundo a música que eu tanto gostava embalava nossa prece, as lágrimas brotavam dos meus olhos numa torrente lavando-os e eu voltei a ver novamente.


Ao término do encontro, pude sair em companhia dos novos amigos que me envolviam em atmosfera de fraterna camaradagem e muito carinho.


Esta história me acompanha há muito tempo, ela me tocou o coração. Fiz a narrativa na primeira pessoa por empatia, sempre penso: e se fosse comigo?


Rogério Alves


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