Pseudos Sábios
Você, certamente, já saiu para uma viagem antes de o dia se assanhar; com a escuridão da noite ainda ditando as regras. E por acordar fora do horário habitual, ficamos um tanto quanto atordoados, sensação que vai se arrastando por todo o dia e acaba por interferir negativamente na eficiência e nos resultados das nossas ações.
Tudo fica mais difícil, nosso poder de compreensão e dedução ficam comprometidos, a atenção um tanto dispersa, a eloquência empobrecida, os reflexos mais lentos… e, com o passar das horas, estes prejuízos só vão se agravando.
Esta sensação é muito parecida com quando nos vemos ou nos colocamos em uma conversa, discussão, debate... sobre algum assunto que não dominamos, como se diz: “ficamos perdidos” e sem condições satisfatórias de uma participação ativa.
O mais curioso é que constato algo muito parecido com esta situação, nestes tempos onde as redes sociais se transformaram em um campo de "debates"; nos últimos anos, vimos surgir, do nada, estudiosos e especialistas em política, sociologia, história… e mais recentemente, verdadeiras sumidades, profundos conhecedores de crises sanitárias, endemias, Pandemia… uma verdadeira bagunça!
Chegamos mesmo a assistir explicações sobre infectologia, eficiência vacinal, imunologia… onde, de forma irrefletida e irresponsável, sérios prejuízos foram causados para os incautos.
Mais recentemente, surgiram os conhecedores de geopolítica, ciências sociais, técnicas de guerra, poderio bélico, arsenal atômico, economia mundial… tudo sem nenhuma preocupação com o verdadeiro conhecimento, num afã de opinar.
Diante desta loucura, me sinto como naqueles dias que acordo na madrugada e vou viajar, lento, abobalhado, sonolento e incapaz de acompanhar tantas opiniões fantasiadas, travestidas de conhecimentos verdadeiros.
É impressionante como se ouve besteiras, sem uma mínima preocupação com a verdade, sem o menor pudor!
Tenho que parar de acordar de madrugada!
Ando muito aturdido!
Rogério Alves.
Pois é, também tenho que parar de acordar de madrugada. Por dever de ofício, afinal são mais de vinte anos trabalhando com a notícia de forma responsável, de uns tempos para cá defronto-me com os “especialistas de manchetes”, ou seja, pessoas que não têm nenhuma preocupação com um princípio básico do jornalismo, que é apurar os fatos, ouvir todos os lados envolvidos e só depois opinar. Enfim, também estou com o sono bem atrasado.