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Hoje, no meio do dia, fui tomado por uma certa melancolia, provocada por uma pergunta incômoda que tomou a minha alma: até onde estaríamos dispostos a abrir mão de algo para o EU em benefício do para o OUTRO? Dar a vez? Ceder o lugar? Dar a preferência? Eleger o outro como alvo da nossa atenção e desvelo?


Quando digo melancolia é porque isso me fez pensar o quanto o eu vem ficando mais presente, forte e ousado nesses tempos atuais; estamos sendo levados e treinados a olhar unicamente para o nosso umbigo, com o eu sempre em primeiro lugar, buscando obcecadamente o lugar de destaque e alucinadamente um tal “sucesso” a qualquer custo. 



É urgente ser “feliz”!


A vida foi, e vem sendo ainda mais, transformada em uma competição; somos, já nos primeiros anos de vida, apresentados a esse sistema aniquilador, onde o estímulo e a cobrança é para sermos os primeiros em tudo, infelizmente mesmo que abrindo mão da ética, palavrinha mágica tão em moda e muito desgastada.



Vivenciamos um mundo onde ser gentil, cordato, pacífico, educado, honesto... é ser visto com um bobo, meio estranho e desajustado.



Somos encorajados desde as nossas primeiras relações sociais a “não deixar nada barato”; a não levar desaforo pra casa; espera-se de nós que nos destaquemos sempre dentre os nossos pares.


Serão esses os reais valores?



Fico pensando: a gente ouve umas histórias de pessoas que se dedicam a outras pessoas; de umas que cuidam de gente e achamos isso muito legal, especial mesmo, a ponto de brotar em nós uma vontadezinha de ser igual, mas que morre no dia seguinte, assim que despertamos para mais um dia de luta.



O que devemos esperar daqueles que estamos treinando, preparando para serem felizes custe o que custar?



Creio que “a vida” vai ter que intervir e nos mostrar que esse caminho não está dando certo, que já temos fortes exemplos de que o produto final dessa indústria é o egoísmo.


Ainda dá tempo de mudar?



Rogério Alves 


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