Confiança no bem
Atualizado: 22 de jan. de 2022
No dia 23 de Novembro de 2020, o COVID-19 entrou, de uma vez, na nossa Casa - um lar de 70 idosos. Às 08 horas tínhamos 04 isolados, com o passar do dia o número só foi aumentando, no dia seguinte já eram 24; daí em diante, os médicos consideram todos os moradores infectados.
Vou contar pra vocês o que aconteceu daí em diante:
Os trovões, raios e ventos ameaçadores que vinham arrodeando nosso coração já há algum tempo, ardilosamente se juntaram e a tempestade caiu de uma só vez.
Tinham sido oito meses de esforços para impedi-la e agora ela havia nos vencido, sem nenhuma cerimônia ou aviso prévio, nos fez buscar nossos valores mais íntimos para enfrentá-la.
Era hora de verificar sobre quais bases estivemos até aqui construindo nosso templo e nossa casa íntima.
Diante da tempestade, trememos, não há dúvida! Mas, buscamos ternamente no companheiro ao lado sua mão e ele, agindo da mesma forma, buscou o outro e esse o outro... até que formamos uma corrente que teve seus elos soldados por Deus.
"Ele cuida dos que cuidam dos seus."
Diante do ocorrido, só nos restava o enfrentamento! São nestes momentos que nós realmente somos colocados à prova. Tínhamos agora vidas frágeis e indefesas sob nossa tutela, não podíamos vacilar, só nos restava arregaçar as mangas e partir em busca dos encaminhamentos e das soluções.
Orientados por três anjos discípulos de Hipócrates, fomos tomando todas as medidas propostas, todos os cuidados, atenção com todos como se fossem um só, dedicadamente, amorosamente.
Pela primeira vez, senti o calor da união, o amparo de uns para com os outros!
Finalmente, quando tudo ficava quietinho no final da tarde e o silêncio se fazia, eu li muitas vezes no céu do nosso quintal as palavras: "união", "equipe", "amor", e escutei nas horas mais solitárias das madrugadas de vigília:
- Meu filho, acalma seu coração, tudo vai dar certo!
Eu só sei que o medo que sentimos foi sendo transformado em coragem!
E como era muito medo, uma parte dele se transformou em vontade e do que sobrou, nós aproveitamos como força de transformação íntima e também da estrutura da instituição.
Agora, quando a tempestade vai se afastando e seus trovões só são ouvidos ao longe, quando já se vê sorrisos nos rostos, quando iniciamos a desmontagem das estruturas que salvaram vidas, sentimos um misto de alívio e paz, um sentimento de missão cumprida, de ter feito o que se esperava de nós.
Não! Não faltou pessimismo, não faltou desânimo nem desesperança; mas isso foi lá fora, vindo sempre de quem não estava envolvido, como nós de corpo e alma.
Não faltaram também os "técnicos" de plantão atrás de mesas em salas assépticas, nem burocratas que, de muito longe, buscavam dados para suas planilhas vazias, esbravejando em busca de dados estatísticos e números para satisfazer suas consciências e seus chefes.
Mas aqui, num final de tarde, começo de noite, o que vejo é calma; agora tudo começa a se arrumar. Melhor do que antes, aprendemos tanto e vimos que temos muito ainda a aprender.
Nada será como antes, perdemos vidas, gente, pessoas, e com esses valores não existe "pouco" ou "muito", o bom mesmo teria sido não perder nenhuma.
Ficou o aprendizado e o crescimento, hoje somos mais fortes, mais unidos, mais empáticos, estamos aprendendo a Ser Humanos.
À noite, quando acordo, agora mais calmo e tranquilo, fico quieto para encontrar novamente o sono e no intervalo da minha respiração ouço bem claro uma voz doce e canora que me fala:
- Meu filho, acalma seu coração, tudo está dando certo.
A vida é uma escola maravilhosa, fomos matriculados aqui para aprender e crescer, a proposta é que sejamos os bons alunos.
Rogério Alves.
Conhecedor dos trabalhos que vocês fazem no Laje, tenho certeza que foi tentado o possível para que este vírus não batesse às portas e, implacavelmente, entrasse na instituição, no entanto, ele, ardiloso e implacável, conseguiu entrar. Mas, vocês resistiram bravamente a ele e salvaram vidas. Neste sentido, o meu reconhecimento e agradecimentos pelo inestimável trabalho realizado por vocês.